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Agradeça às “Bactérias do Bem” por uma agricultura sustentável

Agradeça às “Bactérias do Bem” por uma agricultura sustentável

Obviamente ninguém busca uma agricultura INSUSTENTÁVEL, que degrade os recursos naturais, não seja economicamente viável e desrespeite os trabalhadores. Porém o conceito de uma agricultura sustentável tem INFINITAS interpretações. Desde as mais radicais, que preconizam uma certa aversão a qualquer tecnologia, alteração no meio ou mesmo a simples presença humana, até a mais simplista, que se satisfaz tão somente com a geração de lucro, que justificaria qualquer prática, desde que seja viável manter a atividade ao longo do tempo.

Como normalmente tudo na vida, aquilo que podemos chamar de “certo” ou de “verdade”, se encontra “no meio do caminho”, nem tanto à esquerda, nem à direita. Seguindo essa máxima, uma agricultura sustentável seria aquela que sim, tem que ser economicamente viável, sim deve ter um horizonte de utilização por um longo período de tempo, mas que também, faz um bom uso dos recursos naturais e das tecnologias disponíveis localmente.

Paisagem de um meio agrícola com equilíbrio entre produção e preservação do meio ambiente.

Dentro dessa visão, é importante agora perceber nossa INSIGNIFICÂNCIA em termos biológicos, reconhecendo os grandes responsáveis pelo surgimento da vida, equilíbrio do planeta e ciclagem dos recursos disponíveis, os MICRORGANISMOS. 

Eles habitam esse pequeno ponto do sistema solar há cerca de 3,77 BILHÕES de anos, tendo emergido logo após o resfriamento da Terra, ocorrido há 4,54 BILHÕES de anos.

Os mais primitivos microrganismos são as bactérias e elas são responsáveis por todas as demais formas vivas que surgiram em nosso planeta.

Quando descobertas, as bactérias foram associadas a doenças nos animais e no ser humano. Se por um lado os estudos iniciais foram fundamentais para a classificação de um novo tipo de ser, eles também iniciaram a INJUSTA FAMA NEGATIVA destes organismos unicelulares. 

Mas felizmente, hoje a ciência tem clareza e reconhece que não haveria vida SUSTENTÁVEL na Terra, sem as bactérias.

Uma prova disso é que temos cerca de 37 TRILHÕES células em nosso corpo. Pois é, e qual é a quantidade de bactérias vivas que temos em nosso organismo? Acreditando ou não, temos cerca de 100 TRILHÕES, ou seja, quase 3 X mais. Então, além de tudo, temos que agradecer às bactérias por estarmos vivos e por podermos comer aquela batata frita, que tanto amamos.

Ilustração de uma silhueta humana, preenchida com milhares de microrganismos, representando sua participação no organismo do homem.

Se elas são tão importantes para nós, organismos superiores e autônomos, que se locomovem e têm capacidade de transformar seu meio, imagine se seria diferente para um ser que não se locomove ou tem a capacidade de mudar seu meio, os VEGETAIS.

Desde as espécies mais primitivas surgidas no planeta, os musgos, bactérias e plantas têm vivido juntos, lutado por nutrientes, se alimentando umas das outras, e COOPERADO MUTUAMENTE por 0,5 BILHÃO de anos!

A associação SINÉRGICA de vegetais e bactérias é conhecida e estudada há mais de 100 anos, tendo diferentes formas de ação e objetivos. 

Os modos de ação mais relevantes para a produção SUSTENTÁVEL de alimentos são:

– Fixação biológica de nitrogênio;

– Promoção de crescimento;

– Solubilização e disponibilização de nutrientes;

– Supressão ou controle de pragas e doenças;

Do ponto de vista de MODOS DE AÇÃO dos microrganismos, é fundamental ressaltar que uma ÚNICA ESPÉCIE de bactéria pode realizar APENAS UM ou TODOS OS PROCESSOS citados anteriormente e que a divisão desses MODOS é mais uma questão REGULATÓRIA e de organização do conhecimento, do que propriamente, uma característica biológica dessa relação PLANTA-BACTÉRIA-AMBIENTE.

Azospirillum brasilense, por exemplo apresenta comprovações científicas de todos esses modos de ação, sendo cada um deles, mais ou menos, evidenciado em função da espécie vegetal, forma de aplicação e ambiente. Porém é cada vez mais CONSENSO, que a relação do Azospirillum com as espécies vegetais, tem impacto positivo na produtividade, sendo muito difícil ordenar ou dividir qual é o efeito preponderante no ganho de produtividade para o Agricultor.

Azospirillum brasilense em microscopia eletrônica.

Outra explicação importante a se fazer, é que a Microbiologia tem avançado muito, tendo como prova os excelentes níveis de produtividade que conseguimos em processos fermentativos, o aumento do shelf life dos produtos contendo microrganismos vivos, que em alguns casos pode chegar à vários anos, mas também no estímulo e extração de METABÓLITOS destes organismos, sem a necessidade de manter células vivas na formulação comercial.

Metabólitos são compostos orgânicos liberados pelos microrganismos depois de um estímulo provocado durante a fermentação biológica. O estudo desse processo tem avançado muito rapidamente e tende a ser fundamental nos sistemas agrícolas sustentáveis do futuro.

Ilustração mostrando uma bactéria se alimentando e liberando metabólitos para o meio de cultura.

E como funciona um processo de FERMENTAÇÃO BIOLÓGICA? Todo processo fermentativo se inicia com a seleção de CEPAS mais eficientes e resistentes de cada espécie de bactéria. Cepas são grupos de indivíduos com origem genética comum e, em consequência, características morfológicas e fisiológicas semelhantes.

Então, existem Milhares, talvez Milhões de cepas de cada espécie de bactéria e novas cepas, resultantes de mutações naturais, ou estimuladas, surgem a cada dia. De modo que, é um grande desafio a identificação e seleção daquelas mais propícias para o uso agrícola em cada ambiente.

Para se ter um exemplo, apenas com relação a espécie Bradyrhizobium japonicum, temos autorizadas pelo Ministério da Agricultura do Brasil, mais de 10 DIFERENTES CEPAS, que tiveram extenso estudo e comprovação científica. E a lista de novas CEPAS e solicitações de inclusão na legislação não para de crescer.

Bom mas após a seleção, se inicia o CRESCIMENTO da colônia de bactérias. Esse processo normalmente se inicia com APENAS DOIS ml de solução bacteriana, que contêm até 4,0 BILHÕES de células vivas e chega a escalas industriais produtivas de 20 MIL LITROS de uma mesma batelada de produção.

Gráfico que mostra a curva de crescimento das bactérias durante o processo fermentativo, com sua diferentes fases e tempos..

Nosso papel nesse processo é, de modo muito decisivo e técnico, garantir as condições IDEAIS para o crescimento da colônia, fornecendo um meio propício, os nutrientes necessários, oxigênio e temperaturas ideais. 

Algumas fermentações se iniciam no laboratório, em tubos de ensaio e chegam a 20 mil L de solução bacteriana em apenas 48 HORAS! É um crescimento exponencial e que demanda alto grau de expertise, automação e gestão.

Durante esse período de tempo tão curto, podem ser necessárias a realização de mais de 200 análises de controle de qualidade e monitoramento do crescimento dos microrganismos.

Mas voltando a falar dos benefícios do uso da microbiologia na agricultura, temos aqui no Brasil, SEM SOMBRA DE DÚVIDAS, o maior case de sucesso dessa tecnologia do mundo, o uso de inoculantes de Bradyrizobium na soja, que dispensa o uso de fertilizantes nitrogenados na cultura e é tido, por quem estuda a área, como o GRANDE RESPONSÁVEL pela excelente competitividade de nosso grão no mercado internacional. Nosso país é hoje o maior exportador de soja e derivados e está assumindo a posição também de maior produtor global, ultrapassando os EUA, após décadas de hegemonia americana.

Nódulos de Bradyrizobium nas raízes da soja.

Nos últimos anos, a técnica da coinoculação, ou o uso de Bradyrizobium associado com Azospirillum brasilense, tem avançado fortemente, praticamente dobrando o potencial de resposta em produtividade, quando comparado ao uso apenas de Bradyrizobium.

Porém não podemos nunca nos esquecer do AMBIENTE. Produzimos soja no Brasil desde o Rio Grande do Sul até Roraima, na região Norte. Desde solos com matéria orgânica comparável à de países Europeus, acima de 8%, até solos extremamente arenosos e quase sem nenhuma matéria orgânica, que resista ao clima quente e úmido.

Além disso, produzimos soja quase que exclusivamente em sistema de sequeiro, gerenciando situações climáticas adversas quase que anualmente.

Todo esse panorama, tem feito também com que se desenvolvam soluções para prolongar a sobrevivência dos inoculantes, tanto nas sementes tratadas e armazenadas, quando no solo, após o tratamento e plantio. Alguns inoculantes possuem aditivos já incorporados a sua formulação e outros aditivos são vendidos separadamente dos inoculantes e adicionados no momento do tratamento das sementes.

O que é inegável é a necessidade de se ajustar a forma de utilização dos inoculantes agrícolas ao ambiente e ao manejo de cada propriedade, pois são esses microrganismos que irão proporcionar uma fatia fundamental da nutrição, estimulação e até mesmo apoio na defesa das plantas, contra pragas e doenças.

Área a direita com problema no inoculante e área à esquerda com inoculante em perfeitas condições e uso de protetor. A clorose, por deficiência de nitrogênio, como consequência da baixa nodulação da soja é visível na área à direita.

Aqui estamos tratando de tamanha importância e impacto, APENAS dos inoculantes, mas a lista de microrganismos e tecnologias biológicas em estudo e lançamento, não pára de crescer. São solubilizadores de nutrientes, como as micorrizas, bio defensivos, como os Bacillus e os Tricodermas, até ativadores de fauna microbiana do solo, contendo misturas de diferentes microrganismos, além de aditivos e nutrientes.

Nesse novo cenário, não há mais divisa nítida entre a agricultura “convencional” e agricultura “orgânica”. A SUSTENTABILIDADE que tratamos no início do texto, tem fundação justamente na combinação do que há de melhor nesses dois mundos, alternando e combinando ferramentas anteriormente antagônicas, para se alcançar melhores resultados.

Sejam cada vez mais bem-vindas “Bactérias do Bem”!

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